O fortalecimento da área de Humanidades é um dos objetivos assumidos pelo Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de Mato Grosso Sul. O grupo, composto por pesquisadores de diversas instituições de ensino superior do Estado, completou um ano durante o 1º Congresso Estadual de Ciências Humanas de MS. O evento celebrou a integração entre professores e estudantes, a valorização da área e o lançamento da chamada , com recursos do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect-MS).
O professor da Faculdade de Ciências Humanas (Fach) e coordenador do Fórum Estadual, Weiny César Freitas Pinto, destacou o papel da Universidade na aproximação interinstitucional com o Governo do Estado. “A UFMS tem tido um papel fundamental no desenvolvimento das humanidades de Mato Grosso do Sul, primeiro porque ela apoia diretamente o nosso Fórum. Desde o lançamento do Fórum, todo esse primeiro ano, a gente sempre pôde contar diretamente com a UFMS. E, claro, a aproximação que a UFMS tem com a Política Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação também é um apoio para o investimento que hoje a gente pode celebrar nesse edital Humanidades MS”, explicou.
Ainda segundo o professor, em um ano de existência, o Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas alcançou os três principais objetivos definidos em sua criação. “Um primeiro objetivo que a gente tinha era abrir o diálogo com a sociedade sul-mato-grossense. […] A gente conseguiu isso de diversas formas e a principal delas é uma coluna semanal, em parceria com o jornal O Estado MS”, contou.
O segundo objetivo era a integração entre os pesquisadores de Humanidades do Estado. “O Fórum já se coloca como um mediador institucional importante para realização dessa integração”, afirmou Weiny Pinto. Já a terceira meta era a conquista de um edital de financiamento para as pesquisas nas áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes. “[A chamada] é resultado de uma articulação institucional importante e trata-se de um edital de R$ 2 milhões que vai financiar pesquisas na grande área de Humanidades”, complementou o professor. “O edital de fato é uma conquista surpreendente. A Fundect se coloca em uma posição de vanguarda […] e se destaca em cenário nacional, mostrando que tem uma concepção abrangente de ciência. Investe na pesquisa em Ciências Humanas, porque entende que não é possível o desenvolvimento econômico, sem o desenvolvimento social e cultural que as Humanidades podem oferecer e contribuir”, reforçou.
A chamada Humanidades MS 2024 irá apoiar projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, que demonstrem efetivos impactos sociais, políticos, econômicos, artísticos, ambientais e/ou culturais para Mato Grosso do Sul. As propostas deverão estar vinculadas a pelo menos um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas; priorizar o avanço do conhecimento na área; efetuar a identificação, compreensão e/ou promover soluções locais; e estar inseridas em uma das seguintes áreas prioritárias: Agronegócio; Bioeconomia; Biotecnologia; Cidades Inteligentes, Energias Renováveis; Biodiversidade; Saúde Animal; Saúde Humana; Tecnologias Sociais e Assistivas. Cada projeto aprovado poderá receber até R$ 100 mil.
Os pesquisadores interessados deverão submeter propostas até 31 de janeiro de 2025 pelo . A divulgação das propostas enquadradas está prevista para 21 de fevereiro de 2025.
Congresso Estadual
O 1º Congresso Estadual de Ciências Humanas de Mato Grosso do Sul, idealizado pelo Fórum Estadual e organizado pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), visou constituir a cartografia das pesquisas em Ciências Humanas, com apresentações de trabalho, mesas-redondas e palestras sobre o panorama das contribuições e desafios da área de Humanidades no Estado. Além da UFMS e da UFGD, também houveram representantes da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Universidade Católica Dom Bosco e da Uniderp.
“O Congresso se iniciou logo depois do feriado do Dia da Consciência Negra, então a gente entendeu que era importante tematizar, e é sempre importante tematizar o racismo. Tivemos uma conferência nacional sobre o tema e depois houve painéis sobre questões relativas às humanidades de Mato Grosso do Sul. Os painéis foram super interessantes, porque tematizaram questões, desafios e oportunidades do campo das humanidades”, apresentou o professor Weiny Pinto. “[As discussões], com representantes de todas as instituições, promoveram uma reflexão profunda a respeito da situação do campo das humanidades. […] A UFMS se deslocou em comitiva, com micro-ônibus, com nossos alunos. O público foi bastante participativo e ativo”, acrescentou o docente.
A estudante Susan Eloy Terena do Programa de Pós-Ұܲçã em Antropologia Social foi uma das participantes do Congresso em Dourados, com a apresentação do trabalho Retomada identitária: escrevivência sobre a construção de um pertencer. Ela fez um recorte de seu projeto de mestrado, que utiliza a autoetnografia e o conceito de escrevivência trazido pela autora Conceição Evaristo. “[A pesquisa busca] fomentar as questões de como se dá o primeiro pertencimento junto a uma comunidade indígena, daquele que não teve a chance de nascer em território, mas que busca no seu corpo-terra este sentir, este pertencer”, explicou. “No caso deste resumo, o primeiro pertencer se deu através da Rede de Saberes, que existe como apoio a permanência acadêmica dos indígenas, sejam eles de contexto urbano ou vindos de território”.
“O Congresso em si agregou muito para dar continuidade à minha formação enquanto futura indígena antropóloga, até para ter base nas discussões em territórios, questões de políticas públicas, e de grandes desafios que eu e os demais futuros cientistas sociais devemos carregar e articular para mudanças no cenário do que é entendido como humano”, complementou.
Para a diretora da Faculdade de Ciências Humanas da UFGD e organizadora do evento, Veronica Aparecida Pereira, o evento trouxe resultados positivos em relação ao diálogo entre os pesquisadores da área e as instituições de ensino e pesquisa do Estado. “A aproximação entre a UFMS, UFGD e demais instituições de ensino, bem como a proximidade com a Semadesc/Fundect para a valorização das Ciências Humanas no Estado de Mato Grosso do Sul nos desafia à proposição de análises e intervenções que ampliem o nosso olhar para as políticas públicas, em torno de questões que não nos atingem de forma isolada. A fronteira, a Rota Bioceânica, a sustentabilidade dos processos de produção, a saúde e educação da população, as comunidades tradicionais e quilombolas, os processos de imigração, a arte, a história e as diferentes visões que constituem a cartografia do nosso estado requerem diferentes olhares”, pontuou. “Foi um importante passo! Cuidaremos com carinho do registro dessas primeiras e importantes impressões cartográficas”, finalizou.
Texto: Thalia Zortéa
Fotos: Arquivo do Congresso Estadual de Ciências Humanas de Mato Grosso do Sul