Professora do IFSP recebe Prêmio de Melhor Tese de Geografia Humana
DocentedoâܲHortolândia desenvolveutrabalho pioneiro naárea de energias renováveis
A tese“Acumulação por despossessão: a privatização dos ventos para a produção de energia eólica no semiárido brasileiro”,defendida porMarianaTraldi,professora de Geografia doâܲHortolândia,recebeuoPrêmioMaurício de Almeida Abreu (homenagem a um importante geógrafo brasileiro) de melhor tese de Geografia Humana pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ANPEG).Oêrecebeu teses de todo o Brasil, defendidas entre os anos de 2019 e 2020.

Apremiação ocorreuduranteo Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia,realizadoonlineentre os dias 10e15 de outubro deste ano. A tese foi defendidaemjulho de 2019, na Unicamp e teve como orientadora a professora Arlete Moysés Rodrigues.
De acordo com a autora, atese discute o acesso e controle dos territórios de elevado potencial eólico no semiárido brasileiro pelas empresas de geração eólica.“Entendendo que a energia eólica, nos moldes atuais, emerge como uma importante aliada no combateàs mudanças climáticas no mundo e que seu uso vem se ampliando rapidamente, busquei juntamente com a minha orientadoracompreender como esse processo vem se desenvolvendo no Brasil e mais especificamente no semiárido brasileiro”, contou Mariana.
Segundo a professora, a maior preocupação da pesquisadizia respeitoàapropriação privada do vento e de terras pelas empresas de geração eólica,bem comoquem são os agentes envolvidos neste processo e qual é o papel desempenhado por cada um deles,em especial,pelo Estado brasileiro.“Importante destacar que a pesquisa foi desenvolvida sempre buscando identificar as principais contradições inerentes a esse processo e os nexos que interconectam o interior semiárido brasileiro e a totalidade mundo”, completou.

A pesquisadora acreditaqueo estudo resultou emmuitas descobertas, já que, segundo ela,trata-sedeumtrabalho pioneiro no Brasil e no mundo.De acordo com Mariana, aliteratura nacional e internacional,até então existente,se preocupava em discutir:os avanços e inovações técnicas e tecnológicas dos equipamentos de geração eólica,bem comoseus impactos ambientais eosaspectos econômicos,tal quala geração de empregos pela atividade ou possíveis ganhos para economia local–temaque ela mesmahavia estudadono mestrado.O que nãoera estudado,de acordo comela, era o acesso, controle e apropriação dos territórios pela indústria eólica e mais especificamente os contratos de arrendamento eólico e a renda da terra.
Mariana explica que essa ausência na literatura se justificatantopela dificuldade de acesso aos contratos de arrendamento eólico, que são sigilosos,comotambém pela novidade da temática, especialmente no Brasil.“Revelar como os contratos se tornam instrumentos formais de promoção da despossessão do vento, de terras e das formas de reprodução social antes existentes no semiárido pelas empresas de geração eólica é certamente um dos resultados mais importantes da pesquisa desenvolvida”, afirmou.
"Revelar a contradição que se estabelece entre produção de energia “limpa” e combateàs mudanças climáticas eàs ilegalidades contratuais,injustiças territoriais, roubo e esbulho de terras e direitos,grilagem de terras,desapossamento e expropriação do direitoàterra e das diversas formas de reprodução social existentes no sertão brasileiro cometidas pelas empresas de geração eólica, em muitos casos com a conivência de órgãos estatais, é certamente outro importante resultado da tese defendida".
Para além disso,segundo a autora,ateseresultouaindaem um“raio x”dessa situação geográfica.“(...) identificamos desde os agentes locais, como os proprietários de terras e posseiros, até os agentes globais, como fundos internacionais de pensão e de investimento que são proprietários de parques eólicos no Brasil. A partir desta identificação,investigamos as relações estabelecidas entre eles e os fluxos de capital. De modo que, ao final pudemos compreender os nexos existentes entre as mais diversas escalas geográficas e identificar quais empresas e instituições financeiras se apropriam de terras no semiárido brasileiro e dos lucros obtidos na geração eólica”, contou.
Mariana relata quetantoelaquantosua orientadora ficaramfelizes e emocionadas com a premiação e o reconhecimentonão sódotrabalho, comotambémdaqualidade da pesquisaquedesenvolveram, principalmente nos tempos dehoje,quese observatanto descréditoem relação às Ciências Humanas e ao papel que elas desempenham na sociedade.Émuito importante ver quão relevantesãoe que os pesquisadores da área de Humanasdesenvolvemconhecimento,oqualpode efetivamente melhorar a vida das pessoas a partir dacríticasocial.
A professoradisseque o apoio que recebeu por parte do IFSP,a fim deque conseguisse se dedicar ao doutorado,fez toda a diferençapara que ela conseguisse desenvolver um trabalho tão bom. “Quando eu estava no segundo ano do curso de doutorado consegui afastamento remunerado junto ao IFSP(...)Inclusive pude fazer o doutorado sanduíche nos EUA, o que mudou os rumos da minha pesquisa e que vem abrindo as portas para redes de pesquisadores fora do Brasil”,revelou.
Mariana conta ainda que,desdeo seuingressono IFSP,elatem orientadoestudantes de Iniciação Científica na mesma temática quepesquisouno doutorado.Segundoa professora, algunsdesses estudantesjá foram premiados noâܲHortolândiapela qualidade do trabalho desenvolvido.A pesquisadora acredita que os resultados doseutrabalho podem subsidiar ações de pesquisa e extensão no IFSP, bem como em outrosIFsdo Brasil, que oferecem cursos na área de Energias Renováveis.
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